Sabemos que a memória participa de uma forma muito positiva na construção da identidade do idoso, assim como apresenta uma forma de constituição de uma afirmação pessoal e social. Através da interrogação do seu passado, onde haja alguém que escute suas experiências, há a significação da sua vida através da memória e da organização temporal da sua vida.

Ao evocar suas lembranças trazem consigo vivências de um dado período histórico de sua vida, fazendo presentificar o passado ressiginificando-o através de seu olhar. De modo retrospectivo, pode-se observar traços identificatórios nas novas gerações de sua família, seja algo físico, seja algo que diga respeito ao modo de se comportar ou coisas que se gosta de fazer, resgatando a voz daqueles que já perderam ao longo de sua caminhada e articulando-se a uma identidade social.

“Ao rememorar fatos passados e evocar lembranças, o idoso está unindo um começo a um fim, ordenando no tempo eventos, para ele significativos. Muitos, só pelo fato de reviverem o que tiveram que passar pela vida, ao suportarem privações e dificuldades, vencendo obstáculos, tendo conseguido sobreviver até então, já se sentem satisfeitos e compensados” (NOVAES, 1999, pg 110)

Obter um espaço em que possa ser escutado faz com que se direcione esta fala a alguém, ordenando as idéias para que estas façam sentido em sua narração, não apenas apresentando-as como recortes soltos da memória. Ao psicólogo, cabe acolher estas histórias garantindo um circular da palavra e acolhimento dos desejos e anseios apresentados.

“o resgate das recordações e das reminiscências facilita o mergulho na interioridade, evitando angústias e medos que esterilizam a imaginação e a fantasia dos idosos. Nos relatos de cenas familiares, suas amizades, romances, laços afetivos são muito lembrados, o que não deixa de ser uma forma de compensação pelo fato de sentirem-se excluídos do atual ambiente familiar e sem “voz” e ”autoridade” para decidirem e optarem na sociedade”  (NOVAES, 1999, pg 113)

A partir das lembranças há não só um resgate da construção da história de vida de cada idoso, mas como um espaço para advir seus desejos. Ao contarem uma história, muitas vezes, não falam só de si mas também de pessoas com quem compartilharam experiências e de certa forma revivem essas experiências de maneira que os dê um valor, uma significação outra ou até mesmo uma saudade daquilo que passou.

Afirma MOTA  et al (2013) “A narrativa, uma ferramenta tão simples na prática e isenta de recursos financeiros, revelou-se tão complexa e carregada de valores que ninguém permanece o mesmo depois desta experiência, nem o ouvinte e nem o narrador.” (pg 1683)

Portanto, esta partilha das vivências trás diversos benefícios tais como melhora da autoestima, uma organização da sua própria história de vida através da narrativa, identificação com os membros do grupo e construção da própria identidade. Além de trazer uma ressignificação dos fatos já ocorridos e, além disso, lembranças de entes queridos que compartilharam junto com o idoso a sua história.

A evocação de memórias e lembranças é de uma riqueza ímpar no trabalho com idosos, promover um lugar de bem-estar do idoso criando um espaço de escuta para questões dificilmente relatadas, mas que permanecem vivas na vida desses idosos que trazem consigo uma pesada bagagem de experiências que nem sempre encontra quem esteja disposto a ouvir o que ele tem a compartilhar ou não valoriza o que ele tem a dizer é de extrema importância.

Psicólogas e Coordenadoras do AtivaMente:

Rachel Dias CRP 05/40363                                                                                                                                                        Shayenne N.Torres CRP 05/37482

 

Contato: (21) 99876-1145 / 98272-9141

Referencia Bibliográfica:

  • NOVAES, M. H. Psicologia da Terceira Idade – Conquistas Possíveis e Rupturas Necessárias. Rio de Janeio. Editora Nau, 1999.
  • MOTA, C.S. et al. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 29(8):1681-1684, ago, 2013